O sol entrava pela fresta da janela do meu quarto, a casa estava quieta. Adriana dormia ao meu lado, Clara e Marina dividiam o quarto de Clara.
Levantei-me em silêncio e fui até a cozinha para passar um café. Um turbilhão ainda morava dentro de mim desde a noite anterior, tentei não pensar na calcinha presenteada por Marina, em vão, foi quando ouvi passos suaves, descalços, aproximando-se.
Adriana surgiu na cozinha, silenciosa. Usava uma camisola clara, quase transparente contra a luz da manhã, os cabelos soltos, a pele ainda quente do edredom, havia algo diferente nela: um perfume novo, uma presença desperta, ela se aproximou pelas minhas costas, me abraçou pela cintura e repousou o rosto no meu ombro.
— Tá acordado faz tempo? — perguntou num sussurro.
Assenti. Senti seus lábios tocarem meu ombro nu, num gesto esquecido, resgatado como quem busca algo que não quer perder.
— Você tá cheiroso... — murmurou, com as mãos descendo pela minha cintura devagar.
Virei-me para encará-la, o desejo nos olhos dela era real, um desejo que eu não via há muito tempo, e meu corpo respondeu como um instinto antigo, ainda vivo. Ela sorriu, percebendo, sem pressa, ergueu a camisola, revelando os seios com uma delicadeza tímida, mas cheia de intenção.
— Senti sua falta ontem — disse, olhos fixos nos meus. — Você ficou no escritório por horas e eu... fiquei sozinha na nossa cama.
Ela encostou o corpo no meu, quente e familiar, minhas mãos encontraram suas curvas conhecidas, mas que agora pareciam redescobertas, o desejo era verdadeiro, pulsava, mas antes que pudesse florescer, um som agudo nos interrompeu: a chaleira no fogão, esquecida, apitava como uma sirene irritante.
Adriana riu de leve, tentando manter o clima, mas algo nela mudou, um pequeno desânimo atravessou seus olhos, como uma lembrança amarga da distância que o tempo construiu entre nós.
— Sempre tem alguma coisa... — murmurou, soltando a camisola sobre os seios e se afastando.
Pegou uma caneca no armário, com movimentos calmos, resignados, fiquei parado, o corpo ainda quente, o sangue pulsando, mas sentindo o mesmo esfriamento silencioso que ela também sentia, o vazio entre nós parecia ter voltado para lembrar que o que tentávamos ressuscitar era algo antigo e frágil demais.
Então, o som da porta de correr se abrindo cortou o silêncio da cozinha.
— Olá... alguém acordado...? — a voz doce e arrastada ecoou.
Era Marina que atravessava a sala com passos leves, quase dançando, usava a mesma camisola da noite anterior, o tecido colado à pele nua, os cabelos bagunçados, o sorriso preguiçoso.
Eu a observei tempo demais para alguém que deveria não observar, o desenho dos quadris, a delicadeza das curvas sob o tecido fino — tudo nela parecia ter sido desenhado para provocar.
Marina notou meu olhar. Virou o rosto lentamente e prendeu meus olhos nos dela, num gesto que não tinha inocência alguma.
— Bom dia — disse ela, com um sorriso que era íntimo, cúmplice.
— Bom dia.
Sem pressa, Marina caminhou até a varanda, a camisola esvoaçava leve, revelando flashes da coxa, das costas, das curvas jovens e tentadoras, mesmo com Adriana ali, poucos metros de distância, meu corpo reagia sozinho, lembrando, querendo. A calcinha vermelha ainda repousava, dobrada, na gaveta do escritório e Marina... sabia. Sabia muito bem.
Deixei a xícara esquecida na pia e fui, quase no automático, para o escritório, aquele era meu refúgio, meu esconderijo — e agora, meu campo minado.
Girei a maçaneta com cuidado, lá dentro, o ar ainda carregava o perfume da noite anterior, abri a gaveta inferior da escrivaninha. Lá estava ela: a pequena peça de renda vermelha, dobrada com a delicadeza de quem sabe que deixou ali um convite silencioso.
Toquei-a como quem toca fogo, aproximei-a do rosto, o perfume doce, o calor íntimo de Marina, o cheiro quente de juventude e desejo... Fechei os olhos, perdido. O som de passos leves no corredor me trouxe de volta, fechei a gaveta apressadamente, como se escondesse uma arma de fogo.
Do lado de fora, o sol se espalhava com mais força, Marina passou pela porta, agora usando um biquíni azul-marinho, simples e provocante ao mesmo tempo, o top marcava a silhueta delicada, a parte de baixo moldava-se às curvas firmes do quadril e das coxas, seu cabelo caía solto sobre os ombros, o sorriso era leve, sem esforço, e ela sabia o que estava fazendo — talvez até mais do que eu queria admitir.
Atrás dela, Clara surgiu, usando um biquíni vermelho, de cortes ousados, corpo de mulher jovem, riso espontâneo, ela parecia tão natural, tão livre, tão viva.
O tempo, de repente, tinha passado num estalar de dedos, minha filha era uma mulher, e sua melhor amiga... Bem, sua melhor amiga estava virando meu veneno.
— Bom dia, pai! — Clara disse, sorrindo.
— Bom dia, filha. Vocês vão pra piscina?
— A Marina me convenceu que o sol está nos convidando — respondeu, rindo.
— Aproveitem.
As duas saíram, leves como o vento, o som de suas risadas ecoava pelo apartamento, eu fiquei ali, parado, entre a culpa e o desejo, entre o que era certo e o que se tornava irresistível.
De repente ouvi os passos de Adriana caminhando com leveza, espiei pela fresta da porta entreaberta do escritório e a vi cruzar a sala vestindo um maiô escuro, elegante, com um pano amarrado à cintura, os cabelos presos de qualquer jeito e os óculos de sol escondendo o olhar, ela sorriu, ainda que de forma breve, antes de seguir em direção à piscina, onde as vozes das meninas já enchiam o ar com leveza, por um momento, tudo pareceu normal, uma manhã de sol na piscina, risadas e família.
Mas dentro do escritório, o clima era outro e eu também já não era o mesmo de ontem. Nem o mesmo marido, nem apenas o pai de uma jovem garotinha que trouxe uma amiguinha para passar o dia na piscina, então voltei a me sentar, o cursor piscando na tela em branco, tentei escrever algo, pelo menos um parágrafo, quem sabe até uma linha, mas tudo que me vinha era o som da risada de Marina atravessando a casa, a sua calcinha vermelha escondida na gaveta e até o seu perfume de jasmim.
Algumas histórias...
... ainda estavam longe de terminar.
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